A mente é passado, é memória, todas as experiências acumuladas num certo sentido. Observe e tenha discernimento.
Tudo o que você já fez, tudo o que já pensou, tudo o que já desejou, tudo o que já sonhou - tudo, seu passado inteiro, sua memória - mente é memória. E a menos que se livre da memória, você não conseguirá dominar a mente.
Como se livrar da memória?
Ela está sempre ali, seguindo você.
Na verdade, você é a memória, então como se livrar dela?
Quem é você sem as suas lembranças?
Quando eu pergunto “Quem é você?” você me diz seu nome - isso é uma lembrança.
Seus pais lhe deram um nome um tempo atrás.
Eu pergunto “Quem é você?” e você me fala de sua família, do seu pai, da sua mãe - isso é uma lembrança.
Eu pergunto “Quem é você?” e você me conta o que estudou, seu nível de instrução, que fez mestrado em Artes ou que tem doutorado ou que é engenheiro ou arquiteto. Isso é uma lembrança.
Quando eu pergunto “Quem é você?”se você de fato olhar para dentro, só terá uma resposta: “Não sei”.
Tudo o que disser será apenas uma lembrança, não você de verdade.
A única resposta verdadeira, autêntica, só pode ser “Não sei” pois conhecer a si próprio é a última coisa que você faz.
Eu posso dizer quem sou, mas não digo.
Você não pode dizer quem é, mas se apressa em dar a resposta.
Aqueles que sabem quem são, guardam silêncio sobre isso.
Pois, se toda a memória for descartada e toda a linguagem for descartada, então quem eu sou não pode ser dito.
Eu posso olhar dentro de você, posso dar a você um gesto, posso ficar com você, com todo o meu ser - essa é a minha resposta. Mas a resposta não pode ser expressa em palavras, pois tudo que é expresso em palavras faz parte da memória, da mente, não da consciência.
Como se livrar das lembranças? Observe-as, testemunhe-as.
E lembre-se sempre: “Isso aconteceu comigo, mas isso não sou eu.”
É claro que você nasceu numa determinada família, mas isso não é você, aconteceu com você, é um acontecimento externo a você. Alguém lhe deu um nome, você o tem usado, mas ele não é você. É claro que você tem uma forma, mas a forma não é você, ela é só a casa em que por acaso você está. A forma é só o corpo em que por acaso você está.
E o corpo lhe foi dado por seus pais - é uma dádiva, mas não é você.
Isso é o que no Oriente chamam de vivek discernimento - você usa o tempo todo a sua capacidade de discernir. Continue fazendo isso - chegará um momento em que você terá eliminado tudo o que não é você.
De repente, nesse estado, você se olha pela primeira vez e encontra seu próprio ser.
Continue jogando fora todas as identidades que não são você - a família, o corpo, a mente.
Nesse vazio, quando tiver jogado fora tudo o que não for você, de repente seu ser vem à tona. Pela primeira vez você encontra si mesmo, e esse encontro passa a ser o domínio.
(Livro: "Consciência - A Chave para Viver em Equilíbrio"- Osho )
OSHO: QUEM É VOCÊ?
SENTINDO O CORPO INTERIOR
Embora a identificação com o corpo seja uma das formas mais básicas do ego, o lado bom disso é que, na maioria das vezes, temos condições de superar essa questão. O que chamo de “corpo interior” já não é mais o corpo, e sim energia vital, a ponte entre a forma e o informe.
Não fazemos isso tentando nos convencer de que não somos nosso corpo, e sim desviando a atenção da nossa aparência física e dos pensamentos sobre ela - beleza, feiúra, força, fraqueza, gordura, magreza – para a sensação de energia vital interna.
Não importa o aspecto do corpo no plano exterior, pois, além disso, ele é um campo energético intensamente vivo.
Se você não tem familiaridade com a consciência do “corpo interior”, feche os olhos por um momento e descubra se existe vida dentro das suas mãos.
Não pergunte á sua mente.
Ela responderá: “não sinto nada.”
Também é provável que diga: “dê-me algo mais interessante sobre o que pensar”.
Então, em vez de dirigir a pergunta a ela, vá direto para suas mãos.
Com isso quero dizer o seguinte: torne-se consciente do sentimento sutil de vida que há nelas.
Para percebê-lo, basta manter-se atento.
Você poderá ter uma ligeira impressão de tremor no inicio e, depois uma sensação de energia vital.
Caso se concentre em suas mãos por alguns instantes, a sensação dessa energia se tornará mais intensa.
Há pessoas que nem sequer precisam fechar os olhos.
Elas são capazes de sentir suas “mãos interiores” ao mesmo tempo em que lêem este texto.
Em seguida, passe para os pés, fixe a atenção neles por cerca de um minuto e comece a sentir as mãos e os pés simultaneamente. Por fim, inclua outras partes do corpo – pernas, braços, abdômen, tórax, e assim por diante – até estar consciente do corpo inteiro como uma sensação global de energia vital.
Adquira o habito de sentir o corpo interior sempre que for possível.
Depois de um tempo, você não precisará mais fechar os olhos para isso.
Por exemplo, veja se é capaz de senti-lo sempre que estiver escutando alguém.
Chega a ser um paradoxo: quando estamos em contato com o nosso corpo interior, não estamos mais identificados nem com o corpo nem com a mente.
É o mesmo que dizer que não nos identificamos mais com a forma, que estamos nos afastando dessa situação e indo em direção ao sem forma, que podemos também chamar de Ser.
Isso é a nossa identidade essencial.
A consciência do corpo não só nos ancora no momento presente como é uma passagem para fora da prisão que é o ego. Além disso, fortalece o sistema imunológico e a capacidade que o corpo tem de curar a si mesmo.
Retirado do livro "O despertar de uma nova consciência"
Eckhart Tolle - Editora Sextante
DESEJO
Eu desejo que desejes ser feliz de um modo possível e rápido,
Desejo que desejes uma via expressa rumo a realizações não utópicas, mas viáveis, que desejes coisas simples como um suco gelado depois de correr ou um abraço ao chegar em casa...
Desejo que desejes com discernimento e com alvos bem mirados.
Mas desejo também que desejes com audácia,
Que desejes uns sonhos descabidos
E que ao sabê-los impossíveis não os leve em grande consideração,
Mas os mantenha acesos, livres de frustração,
Desejes com fantasia e atrevimento,
Estando alerta para as casualidades e os milagres,
Para o imponderável da vida, onde os desejos secretos são atendidos.
Desejo que desejes trabalhar melhor, que desejes amar com menos amarras,
Que desejes parar de fumar, que desejes viajar para bem longe...
E desejes voltar para teu canto, desejo que desejes crescer...
E que desejes o choro e o silêncio, através deles somos puxados pra dentro,
Eu desejo que desejes ter a coragem de se enxergar mais nitidamente.
Mas desejo também que desejes uma alegria incontida,
Que desejes mais amigos, e nem precisam ser melhores amigos,
Basta que sejam bons parceiros de esporte e de mesas de bar,
Que desejes o bar tanto quanto a igreja,
Mas que o desejo pelo encontro seja sincero,
Que desejes escutar as histórias dos outros,
Que desejes acreditar nelas e desacreditar também,
Faz parte este ir-e-vir de certezas e incertezas,
Que desejes não ter tantos desejos concretos,
Que o desejo maior seja a convivência pacífica com outros que desejam outras coisas.
Desejo que desejes alguma mudança,
Uma mudança que seja necessária e que ela não te pese na alma,
Mudanças são temidas, mas não há outro combustível para essa travessia.
E desejo, principalmente,
Que desejes desejar, que te permitas desejar,
Pois o desejo é vigoroso e gratuito, o desejo é inocente,
Não reprima teus pedidos ocultos, desejo que desejes vitórias, romances, diagnósticos favoráveis,
mais dinheiro e sentimentos vários,
Mas desejo, antes de tudo, que desejes, simplesmente.
Fonte:http://www.pensador.info/autor/Martha_Medeiros/2/
FELICIDADE REALISTA
De norte a sul, de leste a oeste, todo mundo quer ser feliz. Não é tarefa das mais fáceis. A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica, a bolsa Louis Vitton e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.
É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Por que só podemos ser felizes formando um par, e não como ímpares? Ter um parceiro constante não é sinônimo de felicidade, a não ser que seja a felicidade de estar correspondendo às expectativas da sociedade, mas isso é outro assunto. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com três parceiros, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.
Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um game onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo.
(Fonte:http://www.pensador.info/p/a_felicidade_realista/1/)
CRESÇA E DIVIRTA-SE!!!...
AUTORA DO LIVRO QUE INSPIROU O FILME "O DIVÃ"
Tenho viajado bastante para acompanhar algumas pré-estréias do filme Divã, baseado no meu livro homônimo. Delícia de tarefa, ainda mais quando a gente gosta de verdade do trabalho realizado, e esse filme realmente ficou enxuto, delicado e emocionante. Além disso, ainda consegue me provocar. A personagem Mercedes (vivida pela incrível Lilia Cabral) está fazendo análise e leva pro consultório muitos questionamentos sobre sua vida. Até que, passado um tempo, finalmente relaxa e se dá conta de que não há outra saída a não ser conviver com suas irrealizações. Diante disso, o analista sugere alta, no que ela rebate: Alta? Logo agora que estou me divertindo?
Eu tinha esquecido dessa parte do livro, e quando vi no filme, me pareceu tão cristalino: um dos sintomas do amadurecimento é justamente o resgate da nossa jovialidade, só que não a jovialidade do corpo, que isso só se consegue até certo ponto, mas a jovialidade do espírito, tão mais prioritária. Você é adulto mesmo? Então pare de reclamar, pare de buscar o impossível, pare de exigir perfeição de si mesmo, pare de querer encontrar lógica pra tudo, pare de contabilizar prós e contras, pare de julgar os outros, pare de tentar manter sua vida sob rígido controle. Simplesmente, divirta-se.
Não que seja fácil. Enquanto que um corpo sarado se obtém com exercício, musculação, dieta e discernimento quanto aos hábitos cotidianos, a leveza de espírito requer justamente o contrário: a liberação das correntes. A aventura do não-domínio. Permitir-se o erro. Não se sacrificar em demasia, já que estamos todos caminhando rumo a um mesmo destino, que não é nada espetacular. É preciso perceber a hora de tirar o pé do acelerador, afinal, quem quer cruzar a linha de chegada? Mil vezes curtir a travessia.
Dia desses recebi o e-mail de uma mulher revoltada, baixo-astral, carente de frescor, e fiquei imaginando como deve ser difícil viver sem abstração e sem ver graça na vida, enclausurada na dor. Ela não estava me xingando pessoalmente, e sim manifestando sua contrariedade em relação ao universo, apenas isso: odiava o mundo. Não a conheço, pode sofrer de depressão, ter um problema sério, sei lá. Mas há pessoas que apresentam quadro depressivo e ainda assim não perdem o humor nem que queiram: tiveram a sorte de nascer com esse refinado instinto de sobrevivência.
Dores, cada um tem as suas. Mas o que nos faz cultivá-las por décadas? Creio que nos apegamos com desespero a elas por não ter o que colocar no lugar, caso a dor se vá. E então se fica ruminando, alimentando a própria “má sorte”, num processo de vitimização que chega ao nível do absurdo. Por que fazemos isso conosco?
Amadurecer talvez seja descobrir que sofrer algumas perdas é inevitável, mas que não precisamos nos agarrar à dor para justificar nossa existência.
(O Globo, 05/04/09)
DOIS TIJOLOS ERRADOS
TODOS TEMOS TIJOLOS ERRADOS, MAS OS TIJOLOS PERFEITOS SÃO EM MAIOR NÚMERO QUE OS RUINS.
Depois que compramos as terras para construir nosso monastério, em 1983, ficamos quebrados. Estávamos com uma grande dívida. Não havia construções naquelas terras, nem mesmo um estábulo. Naquelas primeiras semanas, dormimos sobre portas velhas que tínhamos compra¬do em um depósito; colocamo-las sobre tijolos, um em cada ponta, para deixá-las acima do chão (não usávamos colchões, é claro - éramos mon¬ges da floresta).
O abade tinha a melhor das portas, a lisa. Minha porta tinha uma marca grande no centro, onde a maçaneta provavelmente ficava. Fiquei aliviado porque pelo menos tinham tirado a maçaneta, mas havia um bu¬raco exatamente no meio da minha cama-porta. Ainda fiz uma brinca¬deira, dizendo que agora nem precisaria sair da cama para ir ao banheiro! A verdade, contudo, era que um vento muito gelado passava pelo buraco. Não consegui dormir muito naquelas noites.
Éramos pobres monges que precisavam de um abrigo. Mas não podíamos contratar um pedreiro - os materiais de construção já eram suficientemente caros. Então, tive que aprender a construir: como pre¬parar fundações, deitar concreto e tijolos, erguer o telhado, construir o encanamento... enfim, tudo. Fui um físico teórico e professor - nada tinha me preparado para o trabalho manual. Alguns anos depois, fiquei bastante eficiente em construções e inclusive chamava minha equipe de CBC - Companhia Budista de Construção. Mas o começo foi muito difícil.
Colocar um tijolo no lugar pode parecer fácil: um pouco de massa embaixo, um tapinha aqui, um tapinha ali. Quando comecei a construir paredes, dava um tapinha de um lado do tijolo para deixá-lo alinhado, e o outro lado subia. Então eu dava um tapinha do outro lado e o primeiro subia. Depois que conseguia alinhá-lo, olhava para o outro lado e ele esta¬va alto demais. Pode tentar!
Por ser um monge, eu tinha paciência e bastante tempo. Deixei cada tijolo perfeito, não importando quanto tempo eu levava fazendo isso. De¬pois de algum tempo, terminei a primeira parede e me afastei um pouco para observá-la. Foi nesse momento que percebi - ah, não! - que tinha me esquecido de alinhar dois tijolos. Todos os outros estavam perfeitamente alinhados, mas esses dois estavam inclinados. Ficaram horríveis, estraga¬ram toda a parede. Meu trabalho estava arruinado.
A essa altura, o cimento estava praticamente seco, por isso não po¬dia tirá-los. Perguntei ao abade se poderia derrubar parte da parede e re¬começar o trabalho - ou, melhor ainda, destruir tudo. Eu tinha cometido um erro terrível e estava muito envergonhado. O abade disse que não, que a parede teria que ficar.
Quando mostrava o monastério aos primeiros visitantes, sempre evitava mostrar a eles a minha parede. Detestava que alguém a visse. En¬tão um dia, cerca de três ou quatro meses depois que a tinha erguido, estava acompanhando um visitante e ele reparou na parede.
- É uma bela parede - disse ele.
- Meu senhor — respondi surpreso -, acho que o senhor esqueceu seus óculos no carro. Observe com mais cuidado e verá que aqueles dois tijolos mal colocados estragaram a parede.
O que ele disse em seguida mudou meu ponto de vista a respeito daquela parede, de mim mesmo e de muitos outros aspectos de minha vida. Ele disse:
- Sim, eu vejo que há dois tijolos errados. Mas também vejo que há 998 excelentes tijolos.
Fiquei impressionado. Pela primeira vez em três meses, eu podia ver ¬que havia outros tijolos naquela parede, além daqueles que estavam errados. Acima, abaixo, à esquerda e à direita dos dois tijolos errados estavam bons ti¬jolos, tijolos perfeitos. Mais: os tijolos perfeitos eram muitos, muitos mais que os errados. Antes meus olhos estavam focados apenas nos meus erros: estava cego para todo o resto. É por isso que eu não conseguia encarar essa parede e não queria que outras pessoas a vissem. É por isso que queria destruí-la. Mas, agora que eu podia ver os tijolos corretos, a parede não parecia mais tão ruim. No final das contas ela era, como o visitante tinha dito, "uma bela parede" E ela ainda está lá, vinte anos depois, mas eu esqueci exatamente quais eram os tijolos errados. Eu literalmente não consigo mais enxergar os meus erros.
Quantas pessoas já terminaram um relacionamento ou se divorcia¬ram porque tudo o que podiam enxergar em seu parceiro eram os dois ti¬jolos errados? Quantos de nós já ficamos deprimidos ou mesmo tentamos suicídio porque só conseguíamos enxergar nossos dois tijolos errados? Na verdade, há muitos, muitos tijolos certos, tijolos perfeitos - acima, abaixo, à esquerda e à direita dos errados -, mas às vezes simplesmente não con¬seguimos enxergá-los. Ao contrário, cada vez que olhamos, nossos olhos ficam presos apenas nos erros. Os erros são tudo o que enxergamos e pen¬samos que eles são a única coisa que está ali, então queremos destruí-los. E algumas vezes, infelizmente, derrubamos "belas paredes".
Todos temos nossos dois tijolos errados, mas os tijolos perfeitos em cada um são muitos mais que os ruins. Quando conseguimos perceber isso, as coisas não parecem mais tão ruins. Não apenas conseguimos viver em paz com nós mesmos, mas também aprendemos a conviver com nossos erros e com os erros de nossos par¬ceiros. Essa pode ser uma má notícia para os ad¬vogados de divórcios, mas é uma boa notícia para você.
Já contei essa anedota várias vezes. Depois de uma certa vez, um pedreiro se aproximou e me contou um segredinho profissional.
- Nós, pedreiros, sempre cometemos erros. Mas dizemos a nossos clientes que é uma característica especial e que nenhuma outra casa na vizinhança tem esse detalhe. E então cobramos a mais por isso!
Então, as características especiais em sua casa provavelmente co¬meçaram como erros. Da mesma maneira, aquilo que você talvez veja como erros em si mesmo, em seu parceiro ou na vida, em geral, podem se tornar características especiais, enriquecendo seu tempo aqui, assim que você deixar de se concentrar apenas neles.
COMPREENDENDO AS RAÍZES DO ESTRESSE
A tensão nada tem a ver com algo fora de você, mas com o que está acontecendo em seu interior. Você sempre encontrará uma desculpa externa para racionalizar sua tensão, simplesmente porque parece absurdo ficar tenso sem nenhuma razão. Mas a tensão não está fora de você: ela reside em seu estilo de vida incorreto. Você está sempre pensando em termos de passado ou de futuro e deixando passar o presente - isso gera tensão.
Iluminando o interior
Sabedoria não é o acúmulo de fatos, números e informações - é uma transformação de seu espaço interior.
Estamos vivendo fora de nós mesmos e, portanto, nosso mundo interior permanece obscuro. Se nos voltarmos para dentro, se nossa atenção começar a se concentrar no interior, então cria-se a luz. Temos tudo que é necessário para criar luz: trata-se apenas da necessidade de um rearranjo.
É como se alguém tivesse desarrumado seu quarto - a mobília está de cabeça para baixo, o lustre está no chão. Tudo se encontra lá, porém fora de seu lugar. É difícil viver era um quarto como esse. Você terá de colocar as coisas de volta exatamente onde devem ficar.
É desse modo que o ser humano existe: temos tudo que é necessário, a existência proporcionou tudo. Chegamos totalmente prontos para viver nossa vida em um plano ótimo, porém vivemos em um nível mínimo pela simples razão de nunca arranjarmos as coisas. Por exemplo, nossa atenção direciona-se para o exterior e, portanto, podemos ver todos exceto nós mesmos - e esse é o aspecto mais importante a observar. É perfeitamente bom ver os outros, mas você tem de ver a si próprio, primeiro tem de ser você mesmo. Desse ponto privilegiado, desse estado centralizado, você pode olhar os outros e isso lhe dará uma qualidade totalmente diferente.
Portanto a atenção deve se voltar para o interior. É disso que trata a auto-descoberta - um giro de 180° de nossa atenção, de nossa conscientização. E onde focalizarmos nossa conscientização, o espaço torna-se iluminado. Não sou contra o mundo exterior, porém o mundo interior é o primeiro a receber cuidados e o mundo exterior ocupa o segundo lugar. A pessoa que pode cuidar de seu mundo interior facilmente é capaz de cuidar do mundo exterior.
Sabedoria significa autoconhecimento e conhecer-se é o início de todos os demais conhecimentos. Depois o círculo de sua luz pode continuar se ampliando: ele pode tornar-se cada vez mais abrangente. Surge o momento em que sua sabedoria abrange tudo, passa a abarcar tudo. Quando uma pessoa sente que nada deixa de estar presente, nada está faltando, ela encontrou o caminho certo. Há grande relaxamento, tranqüilidade, contentamento profundo; há um silêncio, mas pleno de canções.
A patologia da ambição
Todas as culturas e todas as religiões o condicionam a sentir-se negativo a respeito de si mesmo. Nenhuma pessoa é amada ou apreciada por ser ela mesma. Você é solicitado a provar se tem algum valor: ganhe medalhas de ouro nas competições esportivas, obtenha sucesso, dinheiro, poder, prestígio, respeitabilidade. Prove seu valor! Seu valor não é intrínseco; foi isso que lhe ensinaram. Seu valor tem de ser provado.
Daí resulta um grande antagonismo, um sentimento arraigado de que "não tenho valor do modo como sou - a não ser que se prove o contrário". Poucas pessoas podem triunfar neste mundo competitivo. Milhões e milhões estão competindo - quantas podem obter sucesso? Quantas podem se tornar presidentes e primeiros-ministros? Em um país de milhões de habitantes, só uma pessoa se tornará presidente, porém, bem no íntimo, todos anseiam pelo cargo. Milhões julgarão que não estão à altura das responsabilidades. Quantas pessoas podem se tornar grandes pintores? No entanto, qualquer pessoa tem algo para criar. Quantas podem se tornar grandes poetas, como Shakespeare, Milton ou Shelley? No entanto, toda pessoa tem uma veia poética em seu interior mais profundo; toda pessoa tem alguma poesia para transmitir ao mundo. Porém, quando ela se torna uma ambição, a ambição em si é anti-poética.
A idéia de sucesso o tortura. Esta é a maior calamidade que já aconteceu à humanidade: a idéia de sucesso, de que você tem de obter sucesso. E sucesso significa que você tem de competir, de lutar - por meios lícitos ou condenáveis, não importa. Quando obtém sucesso, tudo fica bem. O ponto-chave é o sucesso; mesmo se o alcançar por meios condenáveis, após obtê-lo, tudo o que fez é aceitável.
O sucesso altera a qualidade de todos os seus atos. O sucesso transforma meios ruins em meios bons. Portanto, a única pergunta é: como obter sucesso, como atingir o topo? E, naturalmente, muito poucas pessoas podem alcançar o topo. Se todos estão tentando chegar ao topo do Everest, quantas pessoas podem ficar lá? Não há muito espaço no pico; só uma pessoa pode permanecer lá com folga. Os milhões que também almejavam se sentirão fracassados e uma grande desesperança se instalará em seu espírito. Eles começarão a sentir-se negativos.
Esse é o tipo errado de educação. Essa assim chamada educação que lhe foi inculcada é totalmente perniciosa. Suas escolas e faculdades, suas universidades o estão envenenando. Estão tornando-o infeliz; são locais onde infernos são produzidos, porém de modo tão formoso que você nunca se conscientiza do que está acontecendo. O mundo todo tomou-se um inferno por causa da educação errada. Toda educação que se baseie na idéia de ambição criará o inferno na terra - e isso efetivamente ocorreu.
Todos estão sofrendo e se sentindo inferiores. Essa é uma situação realmente estranha. Ninguém é inferior e ninguém é superior, porque cada indivíduo é único - nenhuma comparação é possível. Você é simplesmente você, e não pode ser outra pessoa. E também não há necessidade. Não precisa tornar-se famoso, não precisa ser um sucesso aos olhos do mundo. Todas essas idéias são tolas.
Você só precisa ser criativo, carinhoso, consciente, meditativo... se sentir a poesia surgindo em seu interior, escreva-a para si mesma, para seu marido, para seus filhos, para seus amigos - e esqueça-se de tudo o mais! Cante sua canção e, se ninguém ouvi-la, cante-a sozinho e a aprecie! Dirija-se às árvores e elas o aplaudirão e o apreciarão. Ou fale com os pássaros e os animais e eles compreenderão muito mais que os seres humanos envenenados durante séculos e séculos com conceitos de vida errados.
A pessoa ambiciosa é patológica.
Você tem um sentimento negativo em relação a si mesmo porque o ensinaram a sentir-se assim. Seus pais agiram desse modo com você - essa é sua herança. Seus professores também se comportaram desse modo, tanto quanto seus líderes religiosos. Seus líderes políticos agiram assim com você - e um número tão grande de pessoas está procedendo desse modo que, naturalmente, você aceitou a idéia de que não tem valor, de que não tem significado ou valor intrínseco, que não tem nenhum significado próprio.
Os pais estão dizendo a seu filho: "Prove que você tem algum valor!". Ser, simplesmente ser, não é suficiente - é necessário fazer algo.
Toda a minha abordagem consiste em afirmar que ser contém um valor intrínseco. O fato de você apenas ser representa uma importante dádiva da existência; ao que mais você pode ansiar? Só respirar nessa existência maravilhosa constitui prova suficiente de que a existência o ama, de que ela precisa de VOCÊ, caso contrário você não estaria aqui. Você existe! A existência o fez nascer. Deve ter havido uma imensa necessidade e VOCÊ preencheu um vazio. Sem você a existência seria menor. E, quando digo isso, estou dizendo não somente para você: estou dizendo para as árvores, para os pássaros, para os animais, para os seixos na praia. Um único seixo a menos na imensa orla marítima e ela não seria a mesma. Uma única flor a menos e o universo sentiria falta dela.
Você precisa aprender que tem valor do modo como é. E não estou lhe ensinando a ser egoísta, ao contrário. Se você julga que tem valor do modo como é, também julgará que outras pessoas têm valor da maneira como são.
Aceite as pessoas como são; desista do “deveriam" e do "precisariam" - esses são conceitos inimigos. As pessoas estão adotando um número excessivo de "deveriam"; "faça isto e não faça aquilo!" Há tantos "faça" e “não-faça" que não se tem flexibilidade; a carga é muito pesada. Foram-lhe transmitidos tantos ideais e metas - ideais de perfeição -que você sempre julga não estar à altura. E os ideais são totalmente impossíveis de atingir. Você não consegue atingi-los; não há possibilidade de alcançá-los. Portanto, você nunca estará à altura.
Ser perfeccionista significa estar pronto para o divã do psiquiatra; ser perfeccionista é ser um neurótico. E a todos nós foi dito para sermos perfeitos.
A vida é maravilhosa em todas as suas imperfeições. Nada é perfeito. Permita-me lhe dizer: mesmo Deus não é perfeito - porque se Deus é perfeito então Friedrich Nietzsche está certo ao dizer que Deus está morto. Perfeição significa morte! Perfeição significa que não há possibilidade de crescimento adicional. Perfeição significa que tudo está terminado. Imperfeição significa a possibilidade de crescer. Imperfeição significa a excitação de novas pastagens, o êxtase, a aventura. Imperfeição significa que você está vivo, que a vida vai continuar.
A vida é eterna, portanto digo que a vida é eternamente imperfeita. Não há nada de errado em ser imperfeito. Aceite sua imperfeição e a idéia de ser negativo em relação a si mesmo desaparecerá. Aceite seu estado atual e não o compare com alguma perfeição futura, algum ideal futuro. Não pense em como você deveria ser! Essa é a raiz de toda patologia - desista disso. Você existe do modo como é hoje e amanhã pode ser diferente. Mas você não pode prever isso hoje e também não é necessário planejamento para que isso ocorra.
Viva este dia em toda sua beleza, em toda sua alegria, em toda sua dor, agonia, êxtase. Viva-o em sua totalidade - em sua obscuridade, em sua luz. Viva o ódio e viva o amor. Viva a irritação e a compaixão. Viva o que existe neste momento.
Minha abordagem não é a da perfeição, mas a da totalidade. Viva o momento que se encontra totalmente disponível para você e o próximo momento nascerá dele. Se esse momento tiver sido totalmente vivido, o próximo alcançará uma intensidade mais elevada de totalidade, um pico mais elevado de totalidade — pois de onde virá o próximo momento? Ele deve nascer deste momento. Esqueça tudo a respeito do futuro - o presente é suficiente.
Jesus diz: "Não pense no amanhã e olhe os lírios no campo! Como são belos. Mesmo Salomão no auge de sua glória não se vestiu como um deles". E qual é o segredo dos lírios formosos? O segredo é simples: eles não pensam no amanhã, eles nada sabem sobre o futuro. O amanhã não existe. Este dia se basta; este momento se basta. E seu sentimento de negatividade a seu respeito desaparecerá.
Lembre-se: se você se sente negativo a seu próprio respeito, automaticamente se sentirá negativo a respeito das demais pessoas. Isso é um corolário necessário.
Ele tem de ser compreendido. A pessoa que tem um sentimento negativo a respeito de si mesma também não pode ser positiva a respeito dos outros, porque as falhas que identifica em si encontrará neles - na realidade, as ampliará nos outros. Ela se vingará. Seus pais o fizeram sentir-se negativo e você se vingará em seus filhos; você os tornará até mais negativos.
Desse modo a negatividade aumenta a cada geração. Cada geração torna-se cada vez mais patológica. Se as pessoas modernas estão sofrendo tanto psicologicamente, isso nada tem a ver com elas; isso apenas mostra que todo o passado foi errado. É a acumulação de todo o passado. A não ser que nos livremos de todo esse passado patológico e comecemos de novo, vivendo no presente, sem nenhuma idéia de perfeição, sem ideais, sem "deveríamos", sem mandamentos, a humanidade está condenada.
Todos se sentem negativos. Uma pessoa pode confessar, outra não. E quando uma pessoa sente-se negativa a seu respeito, ela se sente negativa em relação a tudo o mais. A atitude de uma pessoa torna-se negativa, um "não". E, se uma pessoa negativa for levada a uma roseira em flor, contará os espinhos em vez de olhar as rosas - ela não consegue vê-las. Não é capaz de olhar as flores. Simplesmente desprezará as rosas e contará os espinhos.
Se você está se sentindo negativo, então a totalidade da vida torna-se uma noite nua. Não há mais o raiar do dia, as manhãs nunca surgem. O sol só se põe, nunca nasce. Suas noites escuras nem sequer estão plenas de estrelas. O que você pode dizer a respeito das estrelas? Você nem sequer tem uma vela pequena.
A pessoa negativa vive na obscuridade, vive um tipo de morte. Ela morre lentamente. É isso que considera ser a vida. Ela prossegue se prejudicando de muitas maneiras; é autodestrutiva. E, naturalmente, quem entrar em contato com ela também será destruído. Uma mãe negativa destruirá a criança. O marido negativo destruirá a esposa; a esposa negativa destruirá o marido. Os pais negativos destruirão seus filhos; a professora negativa destruirá seus alunos.
É necessária uma nova humanidade que afirmará a vida, que amará a vida, que amará o amor, que amará essa existência tal como é, em primeiro lugar, que não exigirá ser perfeita, que celebrará a vida com todas as suas limitações. E você ficará surpreso – se você amar sua vida, a vida começará a abrir suas portas para você. Se você ama, mistérios lhe serão revelados, segredos lhe serão transmitidos. Se ama seu corpo, mais cedo ou mais tarde se tornará consciente da alma que reside nele. Se ama as árvores e as montanhas e os rios, mais cedo ou mais tarde verá as mãos invisíveis de Deus por trás de tudo. Sua assinatura encontra-se em cada folha. Você apenas precisa de olhos para enxergar - e apenas olhos positivos podem ver; olhos negativos não conseguem ver.
Aceite a si mesmo, caso contrário você se tornará um hipócrita. E o que é um hipócrita? A pessoa que diz uma coisa, acredita em outra e vive em situação oposta. Não reprima nada - nada em você é negativo. A existência é integralmente positiva. Expresse seus sentimentos interiores mais ocultos. Cante sua canção e não se preocupe com o que ela representa. Não espere que alguém a aplauda, pois não há necessidade. O próprio ato de cantar deve ser uma gratificação.
Se você deseja realmente viver, precisará de um "sim" profundo em seu coração. Só o "sim" lhe permite viver. Ele lhe proporciona alimento, lhe dá espaço para se locomover. Simplesmente observe -mesmo ao repetir a palavra "sim" algo começa a abrir-se em você. Diga "não" e algo se contrai. Diga não, repita o não e você estará se matando. Diga sim e se sentirá transbordante. Diga sim e estará pronto para amar, viver, existir.
Para mim cada indivíduo é soberbo e único. Não compare indivíduos; a comparação não é meu modo de agir, porque a comparação é sempre feia e violenta. Não direi que você é superior às outras pessoas, não direi que é inferior. Você é simplesmente você mesmo e é necessário do modo como é. E é incomparável - como são todas as demais pessoas.
CERTO E ERRADO
“A pulsação do mundo
É o coração da gente
O coração do mundo
É a pulsação da gente
Ninguém nos pode impor,
Meu irmão,
O que é melhor pra gente.”
(Milton Nascimento)
Vivemos numa época em que os conceitos, os valores, as crenças mudam tão rapidamente que perdemos o pé das situações com muita facilidade. Já não sabemos mais o que é certo e o que é errado, como devemos agir, se o que os outros dizem está certo, se não está, ou até que ponto podemos confiar nesta ou naquela norma de conduta. Com você não e assim?
Na maioria das vezes entramos em conflito com nós mesmos, pois conseguimos enxergar que algumas coisas estão certas, mas não se encaixam em nós, ou que para nós há um erro, mas todos o cometem.
O mundo não é exatamente como imaginamos, não é exatamente como achamos que deveria ser. Parece-nos que as pessoas não entendem as coisas como nós. Há tanto para mudar, há tantas coisas que já não se valorizam e que são tão importantes. Por outro lado, há coisas que não significam nada, que não nos são imprescindíveis, mas às quais a maioria de nós dá muita importância. Sentimo-nos desencaixados, diferentes, esquisitos...
Para sairmos da situação, fingimos que aceitamos, reprimimo-nos, escondendo de nós o que sentimos. De que maneira? Limitamo-nos em regras externas, fazendo sacrifícios, entrando nos "eu deveria...", "eu tenho que...", sem observar o que sentimos. Passamos a uma atitude de conformismo ou revolta, crendo no mal, na maldade e na malícia.
Nos menores gestos, nas menores opções, vamos pelo que a maioria faz, pois não queremos ser diferentes dos outros, anormais, esquisitos ou alienados. Assim, se não gostamos de novela e não a assistimos, não dizemos a ninguém, fingimos que sabemos do que estão falando, pois podem achar que não somos deste mundo. Ou então, quando nos recomendam um filme de arte e embora nós o tenhamos achado chato, moroso e tenhamos quase dormido no cinema, dizemos que era uma obra-prima e fazemos um discurso bem elaborado sobre a intenção do diretor.
Queremos ser aceitos, estar sempre certos, nunca errar, queremos uma imagem positiva para mostrar quanto somos bons, quanto dominamos os principais conceitos sociais, quanto somos inteligentes, cultos, hábeis, normais. Para tanto, guiamo-nos pelas normas, pelos modelos, e deixamos nosso sentir de lado. Insatisfeitos, mas supostamente aceitos.
Sentimento e cultura
Todo comportamento aprendido que tenha sido socialmente adquirido faz parte de um sistema cultural — isto é, nossos hábitos, valores, idéias, costumes — que garante a satisfação e continuidade de uma sociedade.
A cultura, a despeito de sua natureza conservadora, muda com o tempo e de lugar para lugar. Podemos observar isso quando escutamos nossos pais dizendo: "Antigamente era muito diferente". Tudo muda, a sociedade, a cultura, as pessoas. Essas transformações são realizadas por meio de mudanças no comportamento social de algumas formas-padrão. Vejamos algumas:
Inovamos, isto é, variamos a moda, as cerimônias, inventamos, descobrimos coisas "ao acaso", tecnologicamente avança¬mos, fazemos imitação etc.
Aceitamos inovações culturais. Assim, quando um pequeno grupo adota novos hábitos, baseados na imitação de outras pessoas, da mesma sociedade, como danças, música, moda, gestos, expressões. Já reparou quantas transformações ocorreram, nos últimos tempos, nessas áreas? Música pop, rock, biquíni, minissaia, gírias, MPB, lambada e muitas outras.
Fazemos, também, uma eliminação seletiva. Um processo igual ao da seleção natural, isto é, hábitos, quando não eficientes, são abandonados por outros mais adequados à época, como a grafia da língua, os ritos cerimoniais, a etiqueta, a tecnologia, a seleção de pessoal.
Por fim, integramos tudo, quando os hábitos tendem a uma coerência geral, um influenciando o outro. Carro, telefone, celular computador, eletrodoméstico, rádio, televisão e política são exemplos disso.
Tudo muda na vida; a única coisa que não muda é a mudança. A despeito de tudo, continuamos progredindo e inevitavelmente isso vai perdurar enquanto houver vida.
Sociedade e individualidade
Nossa mentalidade (conjunto de nossas crenças) acompanha nossa cultura e é por esse motivo que quando damos importância só para a nossa mente podemos ter um comportamento inadequado a nós mesmos. A mente "mente", distorce o verdadeiro, pois está repleta de valores morais e condicionamentos que não levam em conta o sentimento individual, mas o que é correto e lícito no ideal social.
Não que a sociedade possua somente valores falsos e que só o que o indivíduo pensa e faz é que tem de ser levado em conta. Há normas que mantêm o bom andamento social e temos de cumpri-las, não por imposição, mas porque sabemos serem úteis para todos. Outras, porém, não têm o mínimo sentido, mas continuamos cumprindo e não sabemos por quê.
Tanto a sociedade como o indivíduo são reais e estão em interação, mas é necessário que tomemos consciência do que realmente é importante para nós como pessoas e o que é cabal para a sociedade, mantendo entre esses dois parâmetros um equilíbrio para o bem de ambos.
O bem e o mal
Como então agir de modo certo? Como devo ser?
Como saber que não estamos errando ao tomar determinada atitude?
As coisas servem para quem as acha úteis. Cada indivíduo tem sua própria medida, porque somos diferentes e estamos em diferentes graus evolutivos.
Quando nos colocamos essas questões, elas precisam ser respondidas por nossa consciência, capazes que somos de avaliar nossa ação na vida, pois é de nossa competência e arbítrio nosso destino.
Tudo na vida é questão de adequação, pois as coisas em si não são boas nem más; todas comportam, no mínimo, dois pontos de vista.
Não há bem nenhum que não seja salvação para uns e extravio para outros. Quantas situações há na vida que para nós são um absurdo e para os outros são o paraíso e vice-versa.
Vejamos um exemplo: uma mulher reclama que o marido a mima o tempo todo, que a trata como criança, fazendo tudo que ela deseja, e outra que o marido não liga para ela, que não se importa com o que ela faz, e no fim da conversa as duas di¬zem em uníssono:
Ah! Se meu marido fosse como o seu!
Assim, o mal e o bem, aqui, são em função das necessidades de cada uma e não na ação praticada pelos respectivos maridos.
O mal, assim como o bem, são abstrações ideais de ação e ambos pertencem ao claro-escuro da vida de cada um e como cada um interpreta.
Julgamento e discernimento
Nós temos uma visão dualística das coisas e do mundo, assim vamos automaticamente separando-as em bem e mal, julgando-as segundo nossa ótica pessoal, nossa tabela, nossa agenda. Se elas são como eu, estão certas; se elas não são como eu, estão erradas. Tudo analisado segundo nossas fronteiras individuais.
Na maior parte das vezes usamos só nossa imaginação ou apenas nosso saber intelectual, sem nenhuma vivência, sem termos passado pela experiência. Dizemos com muita facilidade: "Eu acho que", "Eu penso que", fantasiando em cima de fatos ou idéias que não fazem parte de nossa experiência de vida.
Muitas vezes nos utilizamos de conceitos prévios (preconceito = pré: anterior, antes; e conceito: idéia, isto é, uma idéia anterior a uma vivência). Assim dizemos que todo católico é beato, que todo judeu é rico, que todo negro sabe sambar etc. Generalizando e rotulando segundo os critérios que nos foram passados e que nós aceitamos sem questionar, sem confrontar com a realidade.
Se nos dispuséssemos a ver as coisas como elas são, sem nos preocupar em qualificá-las como certas ou erradas, mas considerando sua extensão e características, poderíamos com mais facilidade e maior amplitude de visão observá-las e refletir sobre elas, usando de discernimento e não de julgamento.
No discernimento há uma atitude de compreensão (ação de aprender junto), sentimento (vindo das sensações) e educação, que nos auxilia a optar: "Serve para mim?", "Não serve?".
O que serve para mim eu uso, eu pratico; aquilo que não serve, não serve e eu abandono, mas não fico criticando ou rotulando quem não fez como eu.
O criticismo
Você é daquelas pessoas que não pode ver algo com que não concorde e já sai criticando? Que tipo de coisa você critica? Tudo? Se não é como você imagina já sai dando seus palpites?
Ou você acha que não faz críticas? Eu e minhas amigas costumamos até fazer uma brincadeira. Dizemos que não fazemos críticas, mas somente "comentários metafísicos acerca do comportamento humano". Fica chique, não fica? Chique, porém críticas...
O criticismo vem de nossa visão negativa das coisas, de nossa crença em erro, em defeito. Vem de nossa mania de comparar (tipicamente uma atitude vaidosa) para estabelecer o "mais que", o "menos que", o "melhor que", o "pior que", sem termos realmente experienciado interiormente, sem termos o significado da vivência.
Ficamos no "achismo", sem sentirmos de verdade. É tudo coisa de nossa cabeça.
Fazemos a crítica porque acreditamos ingenuamente que criticar conserta. Não colocamos os pés na realidade, vamos atrás de nossas fantasias, de nossas ilusões, acreditando que se criticarmos poderemos mudar o outro, mudar o mundo, consertar tudo o que está inadequado. Não aprendemos que ninguém salva ninguém, ninguém conserta ninguém. Não acreditamos realmente que "nenhuma ovelha de meu Pai se perderá".
Todos temos como único destino a bem-aventurança, porém é difícil para nós crermos que a vida não erra. Tudo na vida está como deveria estar; nem mais, nem menos, só como é. Cada um de nós é seu próprio caminho, sua própria verdade e sua própria vida.
Somos seres únicos, singulares, cada qual com seu modo de ser, de sentir, de pensar, de agir. Cada um de nós está vivendo suas próprias experiências, sua própria vida, exercitando seu arbítrio e suas crenças, no nível de consciência que temos.
Verdade e realidade
Cada um de nós é seu próprio destino e este depende das atitudes que tomamos, de nossas opções, de nossas escolhas. O poder é nosso e não do mundo ao nosso redor.
Agimos, de uma maneira ou de outra porque cremos que é o melhor. Assim, agimos porque cremos. São nossas crenças interiores que nos levam a tomar determinadas atitudes e não outras.
Conseguimos observar nossas ações fora, observar nossa consciência, mas perdemos muitas vezes as atitudes interiores que geraram essas ações. Por trás de nossas atitudes, por trás de nossas posturas de vida, existem crenças arraigadas em nós, crenças estas que nos são inconscientes.
Para além das crenças estão nossos valores, Isto é, as coi¬sas que consideramos como certas ou erradas, bonitas ou feias, úteis ou inúteis, justas ou injustas, nas diversas áreas da vida.
Assim, são nossas crenças, sustentadas por nossos valores pessoais, que fazem nossa realidade; por esse motivo, tudo na vida é relativo.
A realidade depende de nós, de nossa consciência das coisas, depende de nossas atitudes. A realidade é fora como nós somos dentro. Tudo que está dentro está fora, pois o mundo é uma coisa só, interligado, sem separação. Tudo é energia em diferentes níveis de manifestação.
Vejamos um exemplo: se sou uma pessoa que não se valoriza, que não se dá força, que não acredita em si mesmo, como vou conseguir atrair para mim prosperidade, sucesso? Se lá dentro de mim há algo que diz que eu não mereço, a realidade aqui fora diz também: não merece.
Já a Verdade é absoluta, pois independe de nós, é mais forte que nossa crença. A Verdade é o bem, o prazer de ser, a alegria, a certeza, a segurança. Todo positivo vem da Verdade. Ela é perfeita e eterna. É nossa meta e nossa libertação. Ela é aquela sensação de encaixe, de lucidez, de coesão, de expansão, é aquilo que para nós faz sentido integral sem necessitar de explicação.
Verdade é sensação!
"Nós estamos entre a verdade e a realidade", pois ora estamos em estados ilusórios, cheios de ego, de vaidades, ora estamos plenos de certeza, de presença, de inteireza de alma.
Sentir e pensar
Por que ficamos assim, alternando um estado após o outro?
Porque, embora tenhamos os órgãos dos sentidos para captar o mundo e decodificá-lo segundo as sensações que nos provoca, nós os desprezamos e vamos atrás do que nos disseram, do que nos ensinaram, das regras, das normas, sem nos darmos conta se aquelas sensações que sentimos nos fazem bem ou mal.
Evitamos o sentir, ficamos só no pensar, no imaginar.
Fomos ensinados a valorizar mais o intelecto que o coração. Através de gerações e gerações isso vem sendo passado, a ponto de termos como verdadeiro que é melhor seguir a mente do que sentir.
Você se lembra de quando era pequeno e se machucava? Nossos pais diziam para as meninas: "Quando casar passa, não liga". E para os meninos: "Homem não chora". Pois é, o que sentíamos não tinha lá muita importância... era coisa de criança.
Agora, se chegássemos com uma nota baixa... Você se lembra? Meu Deus! Como era importante ser bom aluno, estudioso, inteligente.
Isso se tornou uma crença profundamente enraizada em nós, a ponto de nos sentirmos culpados quando nossos sentimentos são transparentes. Queremos que os outros nos vejam como inteligentes, capazes, de Q.I. alto, perspicazes. Mas não gostamos quando notam nossa sensibilidade, afetlvidade, medo, raiva.
Separamos o pensar do sentir para proteger nossa vaidade, nosso orgulho, nosso ego. Estamos tão identificados com nossa aparência que para protegê-la fazemos qualquer negócio.
Temos medo de ser "cafonas", fazer besteira, ser ridículos. Temos medo de assumir aquilo que realmente somos: gente!
Não confiamos em nós, não confiamos na vida e achamos que, se deixarmos a coisa fluir naturalmente, tudo dará errado.
Não confiamos no sentir, não confiamos na Natureza. Não aprendemos que as coisas vêm quando podemos percebê-las. A vida não é sádica.
A vida não cobra de nós aquilo que não somos capazes de perceber. Só o orgulho cobra. A vaidade, grande tirana, sustenta nossos fracassos escondidos e nossos sucessos aparentes.
Como saber o que nos é adequado? Onde buscar respostas? A Natureza sempre nos mostra o que é adequado e o que não é adequado para nós, por intermédio de nossas sensações.
As sensações que temos é a linguagem que a alma usa para se comunicar conosco. Se a sensação é boa, é o bem; se a sensação é ruim, é o inadequado. A verdade é sensorial.
As sensações são nossos guias internos, são referenciais de nosso comportamento. Só o que eu sinto pode ser verdadeiro para mim.
Precisamos nos permitir sentir e refletir em cima desses sentimentos. Para alçar um vôo alto precisamos das duas asas: inteligência e coração. Precisamos nos capacitar, adquirir a apti¬dão de compreender nossos próprios sentimentos e emoções.
Mas para podermos ler o que sentimos e compreender o que se passa conosco, precisamos nos permitir sentir e admitir que esse sentir é único. Ninguém no mundo sente igual a mim. O que eu sinto, só eu sinto!
Sentir: é a chave!
Não há opiniões sobre o que eu sinto, pois a experiência é minha. Experiência é algo intransferível. Só eu sei o que é bom e o que não é bom para mim. Você deve estar se perguntando: como assim, intransferível? Não aprendemos com os outros?
Vamos olhar isso de uma maneira muito fácil de entender: eu faço um bolo de chocolate, coloco um recheio de doce de leite, cubro com uma camada bem grossa de chantilly e ainda ponho por cima raspas de chocolate e enfeito com grandes morangos vermelhos. Como um bom pedaço e depois digo para você: Comi um delicioso bolo de chocolate todo recheado e com cobertura!
Se você gosta de bolo e num esforço de imaginação consegue visualizar a cena, pode até ficar com água na boca, mas não vai conseguir sentir o que eu senti, pois quem comeu fui eu.
Se pelo contrário você não gosta de doces, mas se impressiona por meu relato, pode ter um arrepio só de imaginar a cena, mas isso não o afeta em mais nada, pois quem comeu fui eu.
Experienciar é estabelecer significados. Significados esses completamente diferentes dos significados de outras pessoas, pois somos, cada um de nós, diferentes. Cada um de nós é uma individualidade, isto é, um ser integral e único, peculiar e original. Ninguém é igual a ninguém. Cada um é um.
Nessa diferenciação está nossa unicidade.
O experimentador, aquele que sente, não participa do mundo, mas a experiência se realiza nele. As experiências não são coisas que acontecem entre nós e o mundo, mas sensações em nós e como as interpretamos.
O escritor Aldous Huxley escreveu: "Experiência não é o que acontece com você, é o que você faz com o que lhe acontece".
Tudo que procuramos está dentro de nós. Costumamos dizer, às vezes: "Não sinto nada". O "sentir nada" é estar longe da própria fonte interior. É estar desligado dos próprios sentimentos.
Como não sentir nada?
Temos mais de três bilhões de reações e sensações por segundo, como não as escutamos?
Quando fico longe de mim, quando não me escuto, quando não ligo para o que sinto, abro um espaço entre mim e minha alma. E nesse espaço é que entram as neuras, os conflitos, as incertezas: Será que estou certo? Será que estou errado? Como ter certeza?
Confiar! Confiar no sentir. Confiar, estar com um fio ligado à... Ter a sensação dentro de si. Sensação de si.
Somos a porta de nós mesmos, podemos decidir. Abrir ou não, é uma opção só nossa. A alma pede, mas é a consciência, por intermédio do arbítrio, que opta por atender ou não.
Experimente sentir, por alguns instantes, a vida fluir, na certeza da realidade cósmica... O agir divino procedendo do interior de nós mesmos. A alma jamais erra!
Errar é certo
Nossa consciência aprende por contrastes. As descobertas são feitas por meio do claro e do escuro, da falta, do excesso etc. As vezes interpretamos de maneira inadequada para nós, pois a mente, dissociada dos sentidos, falhou em algum ponto.
Vamos atrás de nossas fantasias, vamos atrás dos "eu acho que" e não conseguimos acertar, erramos. Todo erro é uma ilusão e toda ilusão é um erro.
A função da ilusão é fazer com que percebamos a realidade de algo. Ela é dolorosa e faz com que queiramos nos afastar dela. Toda ilusão termina em desilusão. Toda mentira termina quando a verdade aparece.
Do erro, ou seja, da ilusão, você chega ao caminho da verdade; a desilusão é a porta do real. Então o erro foi o caminho do acerto, daí podermos afirmar que errar é certo!
Toda experiência é sempre um sucesso. Todos os caminhos estão corretos. Errar é o caminho do acertar. É descobrir uma hipótese a menos.
Enquanto a vida passa por nós, aprendemos com ela. Somos espaços vivenciais, em que certo e errado não se aplicam.
Podemos optar por agir com inteligência para evitar a dor ou podemos optar pela dor por não querermos escutar a alma, mas são só opções, mais nada.
Porém temos medo do erro, e esse medo nos empurra para trás, fazendo com que tomemos posturas contrárias a nós mesmos. Assim:
— vigiamo-nos para não fazer feio;
— não queremos experienciar o novo, o diferente, porque não o dominamos;
— criticamo-nos e nos condenamos nos mínimos deslizes;
— prendemo-nos em nome de algo que nem abraçamos;
— tornamo-nos exigentes e controladores;
— culpamo-nos;
— punimos-nos;
— amedrontamo-nos com a vida;
— tornamo-nos cobradores e cobráveis;
— transformamo-nos em perfeccionistas;
— mantemo-nos em tensão constante;
— a vaidade nos aprisiona!
Corpomente
Como corpo e mente são uma única e só realidade, uma unidade psicossomática, um refletindo o outro, aspectos in¬separáveis da mesma essência, acabamos por somatizar nossos padrões de pensamentos negativos, gerando em nós doenças dos mais diferentes tipos.
Quando não fazemos o nosso melhor, quando nos deixamos invadir por normas externas e não escutamos nosso Eu interior, nosso sistema de proteção interno nos mostra que nossa atitude não está sendo o nosso melhor: somatizamos.
Assim, por sermos muito críticos, não filtrarmos as coisas com tanta facilidade, não nos livrarmos do que não serve mais para nós, usarmos pouco nossa capacidade de discerni-mento, acabamos por quebrar a harmonia natural existente em nós.
No corpo, os padrões de pensamento aparecem de diferen¬tes maneiras, conforme o nível de entendimento e de consciência de cada um.
Podem surgir cólicas, cálculos nos rins, dores de estômago, dores de cabeça, intestino preso, boca amarga etc.
Os pensamentos que nutrimos, as atitudes que tomamos, criam vida. Se desejo uma vida melhor, tenho de ir pelo meu melhor.
Seguir o bom senso, ou seja, o senso do bem: a inteligência a favor do coração e ambos a favor da vida, é a melhor opção.
Muito mais importante do que estarmos certos é estarmos felizes com nós mesmos.
Moral
Na vida fazemos o tempo todo avaliações. Isto é, quando observamos algo, conversamos com alguém, compramos algum objeto, passamos por uma experiência, automaticamente vamos emitindo nossa opinião a respeito, mostrando o que aquilo representa para nós diante dos valores que temos. Valores como beleza, praticidade, agradabilidade.
Vimos, no início do capítulo, que herdamos uma série de comportamentos por meio da cultura. Aprendemos, por exemplo, a respeitar os mais velhos, a nos comportar diante das autoridades, ter obediência, responsabilidade, ouvir, comer. De maneira que, quando agimos de um modo ou de outro, somos avaliados, como bons ou maus.
Avaliação esta feita pelas pessoas a nossa volta ou por nós mesmos. Se acertamos, somos recompensados com elogios; se erramos, somos criticados ou punidos. Sabe aquela vozinha interior que fica o tempo todo nos dizendo se estamos acertando ou errando?
Há, na filosofia, uma parte que estuda essas normas. Essa parte chama-se ética e dentro dela uma parte específica que estuda o comportamento humano: a moral.
Moral são normas, associadas a idéias, sobre formas certas ou erradas de comportamento. É um conjunto de valores aceitos pelo social.
A moral muda com o tempo e as experiências do homem; muda conforme mudam suas reflexões sobre a vida.
Assim, houve tempos em que era considerado imoral a mulher mostrar as pernas, divorciar-se, fumar etc. Podemos questionar isso com nossas avós ou mesmo com nossas mães. Atualmente, porém, essa realidade já não se faz presente, embora ainda tenhamos alguns preconceitos baseados nessa moral.
As normas morais dão a um sistema social seu caráter, sua consistência e unidade. Elas auxiliam a preservação do conjunto social, estabelecendo regras que devem ser cumpridas por todos.
Mas a moral não se restringe só a essa característica social, pois ela tem também um caráter pessoal, isto é, nós seres humanos podemos acatar ou não as regras sociais. Somos seres pensantes, reflexivos, conscientes e possuidores de arbítrio. Isso nos possibilita questionar se essas regras estabelecidas nos servem ou não.
Cada um de nós, conforme as experiências devida que teve, tem uma visão diferente das coisas, portanto, uma moral diferente. Não há coisas que o deixam escandalizado e outras que você aceita?
Entramos em conflito muitas vezes, pois nossos valores não são os mesmos que a sociedade prega. Ficamos entre o individualismo doente e o autoritarismo estreito.
Para um comportamento sadio é necessário um equilíbrio entre essas duas forças. Para tanto, é necessário que possamos estar sempre discutindo, refletindo, buscando significados para as regras estabelecidas. Precisamos confrontar, diante de nossas próprias vivências, se aquelas normas fazem sentido ou não, contribuindo assim não só com nós mesmos, mas também com a renovação da sociedade em que vivemos.
Viver é um ato criativo por excelência. E com nossa contribuição que a sociedade progride. Embora ela nos estabeleça regras, já tem como certo que elas serão discutidas e quebradas pelos indivíduos, pelo bem e pelo progresso da própria sociedade.
A moral pessoal
Quando fazemos uma opção, nossa consciência moral, quer a notemos ou não, se faz presente. Baseamo-nos nas normas vigentes e no que pensamos a respeito delas, em nossas vivências e no que significaram para nós. Sem a experiência, fica só a regra pela regra, isto é, sem o que dá sentido e significado à escolha.
Assim, todo pensamento que não tenha um sentimento pessoal é moralizante, pois não leva em conta as sensações do indivíduo, mas só o que a sociedade considera como certo ou errado.
A moral social nunca resolve os problemas emocionais do homem, pois sua função é moldar o comportamento dos indivíduos para melhor controlá-los.
Se desejamos ter uma vida criativa, repleta do bem, da beleza, da verdade, precisamos aprender a valorizar nossos próprios sentimentos e sensações, escutar a alma e confiar na vida. Viver uma vida de bem e de luz interior, eis a grande virtude. Ser o que é, nem mais, nem menos, só ser o que é.
Vida sem felicidade não vale a pena! Temos de ir além, além da razão, dos preconceitos, dos limites artificiais. Temos de ir para um espaço mais cheio de significado: para dentro de nós. Buscarmos em nós todas as respostas, todas as soluções. Experienciando, aprendendo, vivendo com a vida e a favor dela.
Quando somos felizes, o mundo a nossa volta é mais feliz. Cuidar de si mesmo, autogerenciar-se, é prazeroso para o indivíduo e contribuição para o mundo, O mundo só pode ser melhor quando eu for melhor.
Na trilogia Guerra nas Estrelas-, de George Lucas, podemos observar na luta travada por Luke Skywalker contra Darth Vader a mesma luta que travamos com nós mesmos: vamos nos deixar engolir pelo lado negro da força, pelo sistema social, pelo domínio do imposto, pelo domínio de nossa cabeça ou vamos viver nossa humanidade, nosso Eu interior, vivendo de acordo com o que sentimos?
Se soubermos garantir nosso lado verdadeiro, viver pelo nosso melhor, poderemos ter a certeza de que "a Força está conosco".
O MERGULHO EM SI MESMO
Projecionista, divulgador dos ensinamentos de Ramatís e fundador do Instituto Brasileiro de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas
Para alcançar uma esfera mais alta de consciência, precisamos mergulhar profundamente em nosso interior e renascer libertos dos medos, dúvidas, vícios e conflitos
Meus amigos, não esperem a morte chegar para desenfaixá-los da carne. Comecem imediatamente um processo interno de profunda renovação consciencial. Morrer não significa crescer! Viver é crescer. A morte apenas faz o espírito mudar de endereço vibracional. A pessoa é a mesma, com suas virtudes e defeitos, seja dentro ou fora do corpo, em qualquer dimensão.
Não tenham medo de mergulhar em si mesmos e escalpelar o próprio ego. Rasguem a pele do medo nas trilhas do discernimento! Contudo, não se enganem. Há dor nesse processo. Não é fácil, mas é factível a quem quer crescer municiado de plena luz interior. O mergulho em si mesmo é uma espécie de morte: a morte do ser velho e seu renascimento constante.
Se vocês padecem do medo da dor de crescer e olhar objetivamente a si mesmos, então, pensem nas dores que já lhes acompanham tão freqüentemente: violência íntima, agonia, medo, vazio existencial, falta de motivação, falta de espiritualidade e uma terrível treva espiritual, envolvendo suas melhores aspirações.
Façam uma medição na balança de seus corações e observem o que dói mais: crescer ou ser súdito da agonia do vazio consciencial? O que dói mais? Ser medíocre e desconhecido de si mesmo ou lutar para evoluir e seguir? O que dá mais trabalho? Manter vícios que custam tanto ou lutar para vencê-los? Quais são seus objetivos vitais? Agonia íntima ou crescimento consciencial?
Vocês esperarão a morte sendo súditos da inércia? Ou aumentarão a motivação de viver e aprender? Quando esse ser velho e medroso será cremado no fogo do discernimento? Quando será o funeral de suas dores íntimas? Quando a fagulha divina que já mora em seus corações há de brilhar mais?
Renasçam a cada instante! Presenteiem suas vidas com uma nova luz nos pensamentos e sentimentos. Promovam aquela alquimia íntima: ser antigo, fora! Ser renovado, agora!
Quem poderá crescer por vocês?
Quem irá pôr fim à dor de vocês?
Que salvador poderá evoluir por vocês?
Quem poderá digerir essas toneladas de mágoas?
Quem promoverá o apocalipse do ego dentro do calendário da própria alma?
Quem liquidará o asteróide do medo no planeta de seus corações?
Mergulhando em si mesmos, sem medo, sem trevas, vocês encontrarão dores, sim, mas qual renascimento é isento de dor? Pior já é a dor de sentir-se um estranho no próprio mundo íntimo.
Usem a água da espiritualidade e o remédio da sabedoria para lavar os sofrimentos e curar as feridas internas. Usem o antiácido da alegria e curem as úlceras emocionais. Agradeçam as dores do parto de um ser divino dentro de vocês. É a dor de um mestre nascendo!
Há um menino Jesus, um menino Krishna e a paz do Buda nascendo no menino-coração de cada um de vocês. Confraternizem mais, sorriam sem medo! Ninguém morre vítima da morte, que apenas devolve a consciência à sua casa celestial. Mas é possível morrer em vida, de agonia e falta de lucidez. É possível ser um cadáver vivo: basta sentir-se vazio, sem alma, murcho de alegrias e renovações.
Meus amigos, cremem o ego e renasçam das cinzas. Façam uma fogueira de seus medos. Depois, joguem as cinzas ao vento da vida e gritem bem alto: "Meus medos já eram! Só tem luz em meu coração! Sou divino e há um sol interno despertando na aurora de minha vida!"
Não esperem a morte para morrer só de corpo. Aliem-se à vida para que morram seus dramas e seus egos. Que esses escritos possam matar suas dores de vazio espiritual, e que possam enchê-los de vida, de luz e de um grande amor. Que Deus abençoe seus renascimentos!