CERTO E ERRADO


(Livro “Alfabetização Afetiva”, de Lousanne Arnoldi de Lucca)

“A pulsação do mundo
É o coração da gente
O coração do mundo
É a pulsação da gente
Ninguém nos pode impor,
Meu irmão,
O que é melhor pra gente.”

(Milton Nascimento)

Vivemos numa época em que os conceitos, os valores, as crenças mudam tão rapidamente que perdemos o pé das situações com muita facilidade. Já não sabemos mais o que é certo e o que é errado, como devemos agir, se o que os outros dizem está certo, se não está, ou até que ponto podemos confiar nesta ou naquela norma de conduta. Com você não e assim?

Na maioria das vezes entramos em conflito com nós mesmos, pois conseguimos enxergar que algumas coisas estão certas, mas não se encaixam em nós, ou que para nós há um erro, mas todos o cometem.

O mundo não é exatamente como imaginamos, não é exatamente como achamos que deveria ser. Parece-nos que as pessoas não entendem as coisas como nós. Há tanto para mudar, há tantas coisas que já não se valorizam e que são tão importantes. Por outro lado, há coisas que não significam nada, que não nos são imprescindíveis, mas às quais a maioria de nós dá muita importância. Sentimo-nos desencaixados, diferentes, esquisitos...

Para sairmos da situação, fingimos que aceitamos, reprimimo-nos, escondendo de nós o que sentimos. De que maneira? Limitamo-nos em regras externas, fazendo sacrifícios, entrando nos "eu deveria...", "eu tenho que...", sem observar o que sentimos. Passamos a uma atitude de conformismo ou revolta, crendo no mal, na maldade e na malícia.

Nos menores gestos, nas menores opções, vamos pelo que a maioria faz, pois não queremos ser diferentes dos outros, anormais, esquisitos ou alienados. Assim, se não gostamos de novela e não a assistimos, não dizemos a ninguém, fingimos que sabemos do que estão falando, pois podem achar que não somos deste mundo. Ou então, quando nos recomendam um filme de arte e embora nós o tenhamos achado chato, moroso e tenhamos quase dormido no cinema, dizemos que era uma obra-prima e fazemos um discurso bem elaborado sobre a intenção do diretor.

Queremos ser aceitos, estar sempre certos, nunca errar, queremos uma imagem positiva para mostrar quanto somos bons, quanto dominamos os principais conceitos sociais, quanto somos inteligentes, cultos, hábeis, normais. Para tanto, guiamo-nos pelas normas, pelos modelos, e deixamos nosso sentir de lado. Insatisfeitos, mas supostamente aceitos.

Sentimento e cultura
Todo comportamento aprendido que tenha sido socialmente adquirido faz parte de um sistema cultural — isto é, nossos hábitos, valores, idéias, costumes — que garante a satisfação e continuidade de uma sociedade.

A cultura, a despeito de sua natureza conservadora, muda com o tempo e de lugar para lugar. Podemos observar isso quando escutamos nossos pais dizendo: "Antigamente era muito diferente". Tudo muda, a sociedade, a cultura, as pessoas. Essas transformações são realizadas por meio de mudanças no comportamento social de algumas formas-padrão. Vejamos algumas:

Inovamos, isto é, variamos a moda, as cerimônias, inventamos, descobrimos coisas "ao acaso", tecnologicamente avança¬mos, fazemos imitação etc.

Aceitamos inovações culturais. Assim, quando um pequeno grupo adota novos hábitos, baseados na imitação de outras pessoas, da mesma sociedade, como danças, música, moda, gestos, expressões. Já reparou quantas transformações ocorreram, nos últimos tempos, nessas áreas? Música pop, rock, biquíni, minissaia, gírias, MPB, lambada e muitas outras.

Fazemos, também, uma eliminação seletiva. Um processo igual ao da seleção natural, isto é, hábitos, quando não eficientes, são abandonados por outros mais adequados à época, como a grafia da língua, os ritos cerimoniais, a etiqueta, a tecnologia, a seleção de pessoal.

Por fim, integramos tudo, quando os hábitos tendem a uma coerência geral, um influenciando o outro. Carro, telefone, celular computador, eletrodoméstico, rádio, televisão e política são exemplos disso.

Tudo muda na vida; a única coisa que não muda é a mudança. A despeito de tudo, continuamos progredindo e inevitavelmente isso vai perdurar enquanto houver vida.

Sociedade e individualidade
Nossa mentalidade (conjunto de nossas crenças) acompanha nossa cultura e é por esse motivo que quando damos importância só para a nossa mente podemos ter um comportamento inadequado a nós mesmos. A mente "mente", distorce o verdadeiro, pois está repleta de valores morais e condicionamentos que não levam em conta o sentimento individual, mas o que é correto e lícito no ideal social.

Não que a sociedade possua somente valores falsos e que só o que o indivíduo pensa e faz é que tem de ser levado em conta. Há normas que mantêm o bom andamento social e temos de cumpri-las, não por imposição, mas porque sabemos serem úteis para todos. Outras, porém, não têm o mínimo sentido, mas continuamos cumprindo e não sabemos por quê.

Tanto a sociedade como o indivíduo são reais e estão em interação, mas é necessário que tomemos consciência do que realmente é importante para nós como pessoas e o que é cabal para a sociedade, mantendo entre esses dois parâmetros um equilíbrio para o bem de ambos.

O bem e o mal
Como então agir de modo certo? Como devo ser?

Como saber que não estamos errando ao tomar determinada atitude?

As coisas servem para quem as acha úteis. Cada indivíduo tem sua própria medida, porque somos diferentes e estamos em diferentes graus evolutivos.

Quando nos colocamos essas questões, elas precisam ser respondidas por nossa consciência, capazes que somos de avaliar nossa ação na vida, pois é de nossa competência e arbítrio nosso destino.

Tudo na vida é questão de adequação, pois as coisas em si não são boas nem más; todas comportam, no mínimo, dois pontos de vista.

Não há bem nenhum que não seja salvação para uns e extravio para outros. Quantas situações há na vida que para nós são um absurdo e para os outros são o paraíso e vice-versa.

Vejamos um exemplo: uma mulher reclama que o marido a mima o tempo todo, que a trata como criança, fazendo tudo que ela deseja, e outra que o marido não liga para ela, que não se importa com o que ela faz, e no fim da conversa as duas di¬zem em uníssono:

Ah! Se meu marido fosse como o seu!

Assim, o mal e o bem, aqui, são em função das necessidades de cada uma e não na ação praticada pelos respectivos maridos.

O mal, assim como o bem, são abstrações ideais de ação e ambos pertencem ao claro-escuro da vida de cada um e como cada um interpreta.

Julgamento e discernimento
Nós temos uma visão dualística das coisas e do mundo, assim vamos automaticamente separando-as em bem e mal, julgando-as segundo nossa ótica pessoal, nossa tabela, nossa agenda. Se elas são como eu, estão certas; se elas não são como eu, estão erradas. Tudo analisado segundo nossas fronteiras individuais.

Na maior parte das vezes usamos só nossa imaginação ou apenas nosso saber intelectual, sem nenhuma vivência, sem termos passado pela experiência. Dizemos com muita facilidade: "Eu acho que", "Eu penso que", fantasiando em cima de fatos ou idéias que não fazem parte de nossa experiência de vida.

Muitas vezes nos utilizamos de conceitos prévios (preconceito = pré: anterior, antes; e conceito: idéia, isto é, uma idéia anterior a uma vivência). Assim dizemos que todo católico é beato, que todo judeu é rico, que todo negro sabe sambar etc. Generalizando e rotulando segundo os critérios que nos foram passados e que nós aceitamos sem questionar, sem confrontar com a realidade.

Se nos dispuséssemos a ver as coisas como elas são, sem nos preocupar em qualificá-las como certas ou erradas, mas considerando sua extensão e características, poderíamos com mais facilidade e maior amplitude de visão observá-las e refletir sobre elas, usando de discernimento e não de julgamento.

No discernimento há uma atitude de compreensão (ação de aprender junto), sentimento (vindo das sensações) e educação, que nos auxilia a optar: "Serve para mim?", "Não serve?".

O que serve para mim eu uso, eu pratico; aquilo que não serve, não serve e eu abandono, mas não fico criticando ou rotulando quem não fez como eu.

O criticismo
Você é daquelas pessoas que não pode ver algo com que não concorde e já sai criticando? Que tipo de coisa você critica? Tudo? Se não é como você imagina já sai dando seus palpites?

Ou você acha que não faz críticas? Eu e minhas amigas costumamos até fazer uma brincadeira. Dizemos que não fazemos críticas, mas somente "comentários metafísicos acerca do comportamento humano". Fica chique, não fica? Chique, porém críticas...

O criticismo vem de nossa visão negativa das coisas, de nossa crença em erro, em defeito. Vem de nossa mania de comparar (tipicamente uma atitude vaidosa) para estabelecer o "mais que", o "menos que", o "melhor que", o "pior que", sem termos realmente experienciado interiormente, sem termos o significado da vivência.

Ficamos no "achismo", sem sentirmos de verdade. É tudo coisa de nossa cabeça.

Fazemos a crítica porque acreditamos ingenuamente que criticar conserta. Não colocamos os pés na realidade, vamos atrás de nossas fantasias, de nossas ilusões, acreditando que se criticarmos poderemos mudar o outro, mudar o mundo, consertar tudo o que está inadequado. Não aprendemos que ninguém salva ninguém, ninguém conserta ninguém. Não acreditamos realmente que "nenhuma ovelha de meu Pai se perderá".

Todos temos como único destino a bem-aventurança, porém é difícil para nós crermos que a vida não erra. Tudo na vida está como deveria estar; nem mais, nem menos, só como é. Cada um de nós é seu próprio caminho, sua própria verdade e sua própria vida.
Somos seres únicos, singulares, cada qual com seu modo de ser, de sentir, de pensar, de agir. Cada um de nós está vivendo suas próprias experiências, sua própria vida, exercitando seu arbítrio e suas crenças, no nível de consciência que temos.

Verdade e realidade

Cada um de nós é seu próprio destino e este depende das atitudes que tomamos, de nossas opções, de nossas escolhas. O poder é nosso e não do mundo ao nosso redor.

Agimos, de uma maneira ou de outra porque cremos que é o melhor. Assim, agimos porque cremos. São nossas crenças interiores que nos levam a tomar determinadas atitudes e não outras.

Conseguimos observar nossas ações fora, observar nossa consciência, mas perdemos muitas vezes as atitudes interiores que geraram essas ações. Por trás de nossas atitudes, por trás de nossas posturas de vida, existem crenças arraigadas em nós, crenças estas que nos são inconscientes.

Para além das crenças estão nossos valores, Isto é, as coi¬sas que consideramos como certas ou erradas, bonitas ou feias, úteis ou inúteis, justas ou injustas, nas diversas áreas da vida.

Assim, são nossas crenças, sustentadas por nossos valores pessoais, que fazem nossa realidade; por esse motivo, tudo na vida é relativo.

A realidade depende de nós, de nossa consciência das coisas, depende de nossas atitudes. A realidade é fora como nós somos dentro. Tudo que está dentro está fora, pois o mundo é uma coisa só, interligado, sem separação. Tudo é energia em diferentes níveis de manifestação.

Vejamos um exemplo: se sou uma pessoa que não se valoriza, que não se dá força, que não acredita em si mesmo, como vou conseguir atrair para mim prosperidade, sucesso? Se lá dentro de mim há algo que diz que eu não mereço, a realidade aqui fora diz também: não merece.

Já a Verdade é absoluta, pois independe de nós, é mais forte que nossa crença. A Verdade é o bem, o prazer de ser, a alegria, a certeza, a segurança. Todo positivo vem da Verdade. Ela é perfeita e eterna. É nossa meta e nossa libertação. Ela é aquela sensação de encaixe, de lucidez, de coesão, de expansão, é aquilo que para nós faz sentido integral sem necessitar de explicação.

Verdade é sensação!

"Nós estamos entre a verdade e a realidade", pois ora estamos em estados ilusórios, cheios de ego, de vaidades, ora estamos plenos de certeza, de presença, de inteireza de alma.

Sentir e pensar
Por que ficamos assim, alternando um estado após o outro?

Porque, embora tenhamos os órgãos dos sentidos para captar o mundo e decodificá-lo segundo as sensações que nos provoca, nós os desprezamos e vamos atrás do que nos disseram, do que nos ensinaram, das regras, das normas, sem nos darmos conta se aquelas sensações que sentimos nos fazem bem ou mal.

Evitamos o sentir, ficamos só no pensar, no imaginar.

Fomos ensinados a valorizar mais o intelecto que o coração. Através de gerações e gerações isso vem sendo passado, a ponto de termos como verdadeiro que é melhor seguir a mente do que sentir.

Você se lembra de quando era pequeno e se machucava? Nossos pais diziam para as meninas: "Quando casar passa, não liga". E para os meninos: "Homem não chora". Pois é, o que sentíamos não tinha lá muita importância... era coisa de criança.

Agora, se chegássemos com uma nota baixa... Você se lembra? Meu Deus! Como era importante ser bom aluno, estudioso, inteligente.

Isso se tornou uma crença profundamente enraizada em nós, a ponto de nos sentirmos culpados quando nossos sentimentos são transparentes. Queremos que os outros nos vejam como inteligentes, capazes, de Q.I. alto, perspicazes. Mas não gostamos quando notam nossa sensibilidade, afetlvidade, medo, raiva.

Separamos o pensar do sentir para proteger nossa vaidade, nosso orgulho, nosso ego. Estamos tão identificados com nossa aparência que para protegê-la fazemos qualquer negócio.

Temos medo de ser "cafonas", fazer besteira, ser ridículos. Temos medo de assumir aquilo que realmente somos: gente!

Não confiamos em nós, não confiamos na vida e achamos que, se deixarmos a coisa fluir naturalmente, tudo dará errado.

Não confiamos no sentir, não confiamos na Natureza. Não aprendemos que as coisas vêm quando podemos percebê-las. A vida não é sádica.

A vida não cobra de nós aquilo que não somos capazes de perceber. Só o orgulho cobra. A vaidade, grande tirana, sustenta nossos fracassos escondidos e nossos sucessos aparentes.

Como saber o que nos é adequado? Onde buscar respostas? A Natureza sempre nos mostra o que é adequado e o que não é adequado para nós, por intermédio de nossas sensações.
As sensações que temos é a linguagem que a alma usa para se comunicar conosco. Se a sensação é boa, é o bem; se a sensação é ruim, é o inadequado. A verdade é sensorial.
As sensações são nossos guias internos, são referenciais de nosso comportamento. Só o que eu sinto pode ser verdadeiro para mim.

Precisamos nos permitir sentir e refletir em cima desses sentimentos. Para alçar um vôo alto precisamos das duas asas: inteligência e coração. Precisamos nos capacitar, adquirir a apti¬dão de compreender nossos próprios sentimentos e emoções.

Mas para podermos ler o que sentimos e compreender o que se passa conosco, precisamos nos permitir sentir e admitir que esse sentir é único. Ninguém no mundo sente igual a mim. O que eu sinto, só eu sinto!

Sentir: é a chave!

Não há opiniões sobre o que eu sinto, pois a experiência é minha. Experiência é algo intransferível. Só eu sei o que é bom e o que não é bom para mim. Você deve estar se perguntando: como assim, intransferível? Não aprendemos com os outros?

Vamos olhar isso de uma maneira muito fácil de entender: eu faço um bolo de chocolate, coloco um recheio de doce de leite, cubro com uma camada bem grossa de chantilly e ainda ponho por cima raspas de chocolate e enfeito com grandes morangos vermelhos. Como um bom pedaço e depois digo para você: Comi um delicioso bolo de chocolate todo recheado e com cobertura!

Se você gosta de bolo e num esforço de imaginação consegue visualizar a cena, pode até ficar com água na boca, mas não vai conseguir sentir o que eu senti, pois quem comeu fui eu.

Se pelo contrário você não gosta de doces, mas se impressiona por meu relato, pode ter um arrepio só de imaginar a cena, mas isso não o afeta em mais nada, pois quem comeu fui eu.

Experienciar é estabelecer significados. Significados esses completamente diferentes dos significados de outras pessoas, pois somos, cada um de nós, diferentes. Cada um de nós é uma individualidade, isto é, um ser integral e único, peculiar e original. Ninguém é igual a ninguém. Cada um é um.

Nessa diferenciação está nossa unicidade.

O experimentador, aquele que sente, não participa do mundo, mas a experiência se realiza nele. As experiências não são coisas que acontecem entre nós e o mundo, mas sensações em nós e como as interpretamos.

O escritor Aldous Huxley escreveu: "Experiência não é o que acontece com você, é o que você faz com o que lhe acontece".

Tudo que procuramos está dentro de nós. Costumamos dizer, às vezes: "Não sinto nada". O "sentir nada" é estar longe da própria fonte interior. É estar desligado dos próprios sentimentos.

Como não sentir nada?

Temos mais de três bilhões de reações e sensações por segundo, como não as escutamos?

Quando fico longe de mim, quando não me escuto, quando não ligo para o que sinto, abro um espaço entre mim e minha alma. E nesse espaço é que entram as neuras, os conflitos, as incertezas: Será que estou certo? Será que estou errado? Como ter certeza?

Confiar! Confiar no sentir. Confiar, estar com um fio ligado à... Ter a sensação dentro de si. Sensação de si.

Somos a porta de nós mesmos, podemos decidir. Abrir ou não, é uma opção só nossa. A alma pede, mas é a consciência, por intermédio do arbítrio, que opta por atender ou não.

Experimente sentir, por alguns instantes, a vida fluir, na certeza da realidade cósmica... O agir divino procedendo do interior de nós mesmos. A alma jamais erra!

Errar é certo
Nossa consciência aprende por contrastes. As descobertas são feitas por meio do claro e do escuro, da falta, do excesso etc. As vezes interpretamos de maneira inadequada para nós, pois a mente, dissociada dos sentidos, falhou em algum ponto.

Vamos atrás de nossas fantasias, vamos atrás dos "eu acho que" e não conseguimos acertar, erramos. Todo erro é uma ilusão e toda ilusão é um erro.

A função da ilusão é fazer com que percebamos a realidade de algo. Ela é dolorosa e faz com que queiramos nos afastar dela. Toda ilusão termina em desilusão. Toda mentira termina quando a verdade aparece.

Do erro, ou seja, da ilusão, você chega ao caminho da verdade; a desilusão é a porta do real. Então o erro foi o caminho do acerto, daí podermos afirmar que errar é certo!

Toda experiência é sempre um sucesso. Todos os caminhos estão corretos. Errar é o caminho do acertar. É descobrir uma hipótese a menos.

Enquanto a vida passa por nós, aprendemos com ela. Somos espaços vivenciais, em que certo e errado não se aplicam.

Podemos optar por agir com inteligência para evitar a dor ou podemos optar pela dor por não querermos escutar a alma, mas são só opções, mais nada.

Porém temos medo do erro, e esse medo nos empurra para trás, fazendo com que tomemos posturas contrárias a nós mesmos. Assim:

— vigiamo-nos para não fazer feio;
— não queremos experienciar o novo, o diferente, porque não o dominamos;
— criticamo-nos e nos condenamos nos mínimos deslizes;
— prendemo-nos em nome de algo que nem abraçamos;
— tornamo-nos exigentes e controladores;
— culpamo-nos;
— punimos-nos;
— amedrontamo-nos com a vida;
— tornamo-nos cobradores e cobráveis;
— transformamo-nos em perfeccionistas;
— mantemo-nos em tensão constante;
— a vaidade nos aprisiona!

Corpomente
Como corpo e mente são uma única e só realidade, uma unidade psicossomática, um refletindo o outro, aspectos in¬separáveis da mesma essência, acabamos por somatizar nossos padrões de pensamentos negativos, gerando em nós doenças dos mais diferentes tipos.

Quando não fazemos o nosso melhor, quando nos deixamos invadir por normas externas e não escutamos nosso Eu interior, nosso sistema de proteção interno nos mostra que nossa atitude não está sendo o nosso melhor: somatizamos.

Assim, por sermos muito críticos, não filtrarmos as coisas com tanta facilidade, não nos livrarmos do que não serve mais para nós, usarmos pouco nossa capacidade de discerni-mento, acabamos por quebrar a harmonia natural existente em nós.

No corpo, os padrões de pensamento aparecem de diferen¬tes maneiras, conforme o nível de entendimento e de consciência de cada um.

Podem surgir cólicas, cálculos nos rins, dores de estômago, dores de cabeça, intestino preso, boca amarga etc.

Os pensamentos que nutrimos, as atitudes que tomamos, criam vida. Se desejo uma vida melhor, tenho de ir pelo meu melhor.

Seguir o bom senso, ou seja, o senso do bem: a inteligência a favor do coração e ambos a favor da vida, é a melhor opção.

Muito mais importante do que estarmos certos é estarmos felizes com nós mesmos.

Moral
Na vida fazemos o tempo todo avaliações. Isto é, quando observamos algo, conversamos com alguém, compramos algum objeto, passamos por uma experiência, automaticamente vamos emitindo nossa opinião a respeito, mostrando o que aquilo representa para nós diante dos valores que temos. Valores como beleza, praticidade, agradabilidade.

Vimos, no início do capítulo, que herdamos uma série de comportamentos por meio da cultura. Aprendemos, por exemplo, a respeitar os mais velhos, a nos comportar diante das autoridades, ter obediência, responsabilidade, ouvir, comer. De maneira que, quando agimos de um modo ou de outro, somos avaliados, como bons ou maus.

Avaliação esta feita pelas pessoas a nossa volta ou por nós mesmos. Se acertamos, somos recompensados com elogios; se erramos, somos criticados ou punidos. Sabe aquela vozinha interior que fica o tempo todo nos dizendo se estamos acertando ou errando?

Há, na filosofia, uma parte que estuda essas normas. Essa parte chama-se ética e dentro dela uma parte específica que estuda o comportamento humano: a moral.

Moral são normas, associadas a idéias, sobre formas certas ou erradas de comportamento. É um conjunto de valores aceitos pelo social.

A moral muda com o tempo e as experiências do homem; muda conforme mudam suas reflexões sobre a vida.

Assim, houve tempos em que era considerado imoral a mulher mostrar as pernas, divorciar-se, fumar etc. Podemos questionar isso com nossas avós ou mesmo com nossas mães. Atualmente, porém, essa realidade já não se faz presente, embora ainda tenhamos alguns preconceitos baseados nessa moral.

As normas morais dão a um sistema social seu caráter, sua consistência e unidade. Elas auxiliam a preservação do conjunto social, estabelecendo regras que devem ser cumpridas por todos.

Mas a moral não se restringe só a essa característica social, pois ela tem também um caráter pessoal, isto é, nós seres humanos podemos acatar ou não as regras sociais. Somos seres pensantes, reflexivos, conscientes e possuidores de arbítrio. Isso nos possibilita questionar se essas regras estabelecidas nos servem ou não.

Cada um de nós, conforme as experiências devida que teve, tem uma visão diferente das coisas, portanto, uma moral diferente. Não há coisas que o deixam escandalizado e outras que você aceita?

Entramos em conflito muitas vezes, pois nossos valores não são os mesmos que a sociedade prega. Ficamos entre o individualismo doente e o autoritarismo estreito.

Para um comportamento sadio é necessário um equilíbrio entre essas duas forças. Para tanto, é necessário que possamos estar sempre discutindo, refletindo, buscando significados para as regras estabelecidas. Precisamos confrontar, diante de nossas próprias vivências, se aquelas normas fazem sentido ou não, contribuindo assim não só com nós mesmos, mas também com a renovação da sociedade em que vivemos.

Viver é um ato criativo por excelência. E com nossa contribuição que a sociedade progride. Embora ela nos estabeleça regras, já tem como certo que elas serão discutidas e quebradas pelos indivíduos, pelo bem e pelo progresso da própria sociedade.

A moral pessoal
Quando fazemos uma opção, nossa consciência moral, quer a notemos ou não, se faz presente. Baseamo-nos nas normas vigentes e no que pensamos a respeito delas, em nossas vivências e no que significaram para nós. Sem a experiência, fica só a regra pela regra, isto é, sem o que dá sentido e significado à escolha.

Assim, todo pensamento que não tenha um sentimento pessoal é moralizante, pois não leva em conta as sensações do indivíduo, mas só o que a sociedade considera como certo ou errado.

A moral social nunca resolve os problemas emocionais do homem, pois sua função é moldar o comportamento dos indivíduos para melhor controlá-los.

Se desejamos ter uma vida criativa, repleta do bem, da beleza, da verdade, precisamos aprender a valorizar nossos próprios sentimentos e sensações, escutar a alma e confiar na vida. Viver uma vida de bem e de luz interior, eis a grande virtude. Ser o que é, nem mais, nem menos, só ser o que é.

Vida sem felicidade não vale a pena! Temos de ir além, além da razão, dos preconceitos, dos limites artificiais. Temos de ir para um espaço mais cheio de significado: para dentro de nós. Buscarmos em nós todas as respostas, todas as soluções. Experienciando, aprendendo, vivendo com a vida e a favor dela.

Quando somos felizes, o mundo a nossa volta é mais feliz. Cuidar de si mesmo, autogerenciar-se, é prazeroso para o indivíduo e contribuição para o mundo, O mundo só pode ser melhor quando eu for melhor.

Na trilogia Guerra nas Estrelas-, de George Lucas, podemos observar na luta travada por Luke Skywalker contra Darth Vader a mesma luta que travamos com nós mesmos: vamos nos deixar engolir pelo lado negro da força, pelo sistema social, pelo domínio do imposto, pelo domínio de nossa cabeça ou vamos viver nossa humanidade, nosso Eu interior, vivendo de acordo com o que sentimos?

Se soubermos garantir nosso lado verdadeiro, viver pelo nosso melhor, poderemos ter a certeza de que "a Força está conosco".



0 comentários:

Postar um comentário

Fico imensamente feliz com tua visita!
Paz, Amor e Alegria no teu coração!!!
Eleonôra