A ARTE DE SE MARAVILHAR


Entre todos os presentes que ganhamos ao nascer, a capacidade de perceber a beleza do mundo é o mais precioso. Com os olhos, apreciamos cenas e vistas maravilhosas. Com os ouvidos, escutamos canções e melodias tocantes. Com o toque e o paladar, descobrimos e saboreamos delícias infinitas. Os sentidos são dotados de um poder oculto capaz de fazer inveja a qualquer mago ou feiticeiro.

A varinha de condão que espalha o pó mágico sobre tudo que as pessoas ouvem, tocam e vêem se chama atenção.

A coisa mais maravilhosa da atenção é sua fluidez. Como a água, ela flui sem esforço a partir da fonte original, em algum ponto da mente. Mesmo que, na maior parte do tempo, a atenção apenas toque com suavidade a superfície das coisas, dando-lhes um tom agradável, ela pode também penetrar nos mais recônditos cantinhos, destacando detalhes mínimos sob sua poderosa lente de aumento.

A atenção permite que se perceba a beleza de um terreno baldio, de uma ponte, de um estacionamento, até de uma parede nua. Também é capaz de revelar a você o que ninguém mais vê: o som das folhas voando na brisa, a determinação da velhinha que atravessa um cruzamento movimentado, as cores dos guarda-chuvas coloridos dançando sobre a multidão.

Já quando a pessoa fica absorta em si mesma ( e se transforma em refém de seu diálogo interior), a realidade do dia-a-dia fica muito banal. Sem dar atenção às coisas, tudo se torna uma mancha, um nada – um “e daí?”.

A caminho do encontro com a amada, você ensaia mentalmente o que vai dizer. Num restaurante de luxo, lê o longo cardápio. Ao chegar em casa, verifica as mensagens na secretária eletrônica. Absorto em seus pensamentos, não observa o que acontece em sua volta. E por que deveria? Em seu modo de ver, não está acontecendo nada.

Mas espere! Tem certeza de que nada acontece? Ou será que o que você considera “nada” não é o prelúdio de alguma coisa muito importante?

- o silêncio da igreja antes de a noiva dizer o “sim”;
- o suspense antes de a cortina subir;
- a pausa antes do primeiro aplauso;
- o momento de respirar fundo antes de assinar um contrato de aluguel;
- o tapinha em seu ombro antes de se virar;
- o suspiro do bebê ao adormecer;
- o silêncio que precede as primeiras notas da sinfonia.

Antes de a orquestra começar a tocar, o regente ergue a batuta para criar o que, em linguagem musical, se chama anacruse – uma nota fraca que precede uma forte. Da mesma forma, cada momento pode ser interpretado como uma nota sutil, um breve intervalo entre o que era e o que está por vir.

Para descobrir as maravilhas da vida, você só tem de se imaginar erguendo a batuta do regente. Com esse gesto mental, estará prestando atenção ao mundo.

Instantaneamente, tudo entra em foco: o livro sobre a mesa, a panela no fogão, as flores no vaso. É o momento mágico, um místico ponto de partida, como o “era uma vez” que dá início a todos os mitos e fábulas.

Véronique Vienne

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Fico imensamente feliz com tua visita!
Paz, Amor e Alegria no teu coração!!!
Eleonôra